Para a estadia programada de um mês em Évora este seria o dia do meio, o dia potencialmente escolhido para um break de rotina e uma visita breve ao Algarve. Convenientemente alguns compromissos importantes ficaram agendados para este meio do mês de Abril e foi portanto com naturalidade que galgámos os 215 km entre Évora e Faro.
O André saiu ao mesmo tempo, rumando na direcção oposta, de volta ao Porto. Saída pela manhã, chegada ainda a tempo de descansar um pouco antes de nova saída para uma consulta médica e de mais umas quantas tarefas.
Depois foi relaxar em casa, preparar coisas para levar para Évora, aquelas pequenas coisas que faltaram, ou por esquecimento ou por ignorância. Foi uma operação bem sucedida, sem grandes stresses, dentro do planeado.
Tudo feito, no dia seguinte a meio da tarde deu-se o regresso a Évora. O nosso inquilino temporário, que está a ficar uns meses em Faro, era para vir como convidado para um par de noites em Évora, mas perante a previsão metereológica foi decidido adiar a visita.
Chegámos ao fim do dia, prontos para mais um período de duas semanas. Entretanto ficou decidido e combinado extender a aventura eborense por mais meio mês, verificadas datas e obrigações, e considerando o sucesso que está a ser.
Nas imediações de Évora, sensivelmente para oeste, ergue-se o alto de São Bento, uma colina com relevância geológica, onde há muito fermenta um pólo museológico. E digo fermenta porque o visito de vez em quando desde há uns 15 anos e nunca o vi aberto e activo.
Foi aqui que fomos passear neste Domingo, depois de uma manhã muito preguiçosa a descontrair e matar tempo em casa.
Na realidade foi mais do que uma manhã, já que apenas às 16:45 conseguimos chegar ao alto. Ainda se colocou a hipótese de caminhar até lá, seguindo a sugestão de amigos. Mas seriam quase 10 km para a ida e volta, a maioria por estradas asfaltadas, algumas com bastante movimento. Depois passou-me pela ideia apanhar um Uber até ao topo e fazer o caminho de regresso a pé. Não havia nenhum Uber disponível em Évora.
Fomos portanto de carro. O caminho conheco-o bem, inclui uma passagem sob um dos arcos do aqueduto agora conhecido como da Água de Prata, que me recorda a minha primeira visita a Évora, aos 18 ou 19 anos. Vim com um amigo cujo pai era vereador nesta câmara e para ir para casa, que era um monte isolado, passava por aqui e passava a abrir o que exigia uma certa perícia.
Bem, lá em cima um casal fazia um piquenique ao sol. Um grupo de trabalhadores estava envolvido na recuperação de um dos moinhos existentes. Vai ser um centro interpretativo. Espero que passe do plano das intenções como parece ser o caso do tal pólo museológico.
Uma mulher mais velha com ares de estrangeira emerge dos campos passeando o seu cão. Com máscara posta. A medievalidade da crença da pestilência dos ares anda por aqui.
Não ficámos por ali muito tempo. Rapidamente se esgota a contemplação da cidade ao longe e dos detalhes do local, incluindo um painel que aponta no horizonte o que estamos a ver e alguns quadros explicativos da geologia do local.
De volta à cidade a tarde agradável convidava a um passeio. E foi o que aconteceu. Caminhar mais um pouco por ruas que sabia que o André ainda não conhecia, tranquilas, como parece ser a regra ao fim-de-semana.
Acabámos a beber cerveja no Cantinto da Tété, antes de regressar a casa para fechar o dia. Foi curto em actividades mas prazenteiro. Um digno encerramento do primeiro período de duas semanas em Évora. Amanhã vamos ao Algarve tratar de assuntos diversos e por lá pernoitaremos. Começamos a pensar estender a estadia no Alentejo por mais duas semanas.
Mais um dia de sol radiante e para um Domingo assim só há uma coisa a fazer para começar: sentar numa esplanada. No caso, a minha favorita, a do Jardim do Templo de Diana.
A caminhada até lá é sempre agradável, pelas ruas mais bonitas da cidade, com algumas variações possíveis.
O ambiente está óptimo. Sossegado mas bem composto. Gosto mesmo de ficar aqui. Ia escrever “horas a fio” mas seria um exagero. Vá, quartos de hora a fio ainda será. Penso no meu amigo KB Lim e o prazer que tinha em fazer o mesmo no “nosso” café Passante na preguiçosa São Tomé.
Para hoje a esplanada será uma base: fico ali enquanto o André visita sucessivamente os espaços de exposição da Fundação Eugénio de Almeida.
É quase uma hora quando pagamos a conta e saímos. Mesmo a tempo. Incrivelmente as esplanadas têm que encerrar às 13:00. Há que seguir as indicações dos especialistas, por mais alienadas que sejam. Como esta, que parece revelar a convicção de que os virus trabalham aos fins-de-semana à tarde mas não aos fins-de-semana de manhã. Que seja. E é só porque a ditadura de Estado assim o determina.
Agora vamos partilhar cultura, visitando o Museu de Évora, conhecido formalmente como Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo. É essencialmente um museu de arte, com secções de arqueologia e joalheria. Como é Domingo e ao contrário do previsto no horário o museu encerra à tarde, estão a oferecer os ingressos e uma borla inesperada é sempre algo que me anima.
Uma visita agradável. Museus de arte não são a minha especialidade, apesar de gostar quando a qualidade é elevada. A colecção do Museu de Évora não é extraordinária mas está bem apresentada e distribuido da forma equilibrada pelas salas.
Para além das peças expostas há que observar o Palácio dos Bispos, apesar de ter sido modernizado e ter perdido o ambiente original. Ficaram na memória os azulejos nas escadarias.
Terminada a visita, um pouco apressada pelo encerramento eminente do museu, faz-se o regresso a casa, passando por outras ruas, desertas e belas, justificando as fotografias que fomos tirando.
Passamos pela rua dos Mercadores. Aquela casa que considerámos adquirir está cada vez mais afastada das nossas intenções. Acho que será a última visita.
A tarde passada em casa, a relaxar. Não me canso desta vida de não fazer nada. Ou talvez me venha a cansar, mas não por enquanto. Passámos pela mercearia dos chineses para umas comprazinhas ligeiras. Adoro o queijo que ali adquiro.
Bem, depois de um par de horas no repouso doméstico, mais uma saída de fim de tarde para esticar as pernas. Está um Domingo glorioso, plácido, com muito sol e uma serenidade típica destes dias em que a vida parece suspensa.
Vamos por partes da cidade que não conhecia, do lado oposto aquele em que costumamos andar. Gosto. É como se fosse outra dimensão de Évora, mais local, menos marcada pela presença de vistantes e vestígios. Passamos junto ao seminário e ao Colégio do Espírito Santo e vamos ao Pingo Doce fazer umas compras.
Nas passadeiras encontramos a Carla e o Henrique se vêm de carro em direcção a Moura. Mundo pequeno, cidade pequena.
Como não comprámos muita coisa e o que levamos cabe nas mochilinhas, vamos agora fazer um final de dia nas esplanadas. Rumo ao Cantinho da Tété, o meu outro pouso habitual.
Então não parece mesmo uma rua de Alvalade…?
Passamos por uma rua que mexe comigo… os edifícios remetem-me para a infância e juventude, fazem lembrar a minha Alvalade. Até as árvores plantadas são da espécie das que ladeavam (e algumas ainda lá estão, sobrevivendo à mão ameaçadora da Câmara Municipal de da Junta de Freguesia) a avenida da Igreja.
E pronto, agora vamos lá deitar abaixo duas belas canecas de cerveja. Algo que deixei de fazer, beber assim bebidas com algum teor alcoólico. Mas será dia de excepção. Esteve-se bem, mas achei o largo um pouco sossegado a mais. Gostava de outra vida, como já lhe vi, mesmo em dias de COVID-19.
No regresso passámos por zonas da cidade geralmente atafulhadas de gente, mesmo nestes dias sem turistas. Tudo vazio. Por um lado isso é interessante. Uma perspectiva diferente.
Mais uma ida para recolher comida para jantar e um pôr-de-sol no terraço antes do serão relaxante com o meu Fortenite.
Esta página do diário escrevo-a quase uma semana depois do dia em questão, numa tentativa de colocar os apontamentos em dia. E com a parca memória com que cheguei a esta idade é capaz de não correr bem. Mas vamos lá.
Portanto é Sábado, e Sábado é dia de mercado por isso esta é a primeira actividade deste dia preguiçoso. O tempo continua relativamente agradável, com boas áreas de céu azul. Já me começo a habituar a esta nova Évora e só esta sensação de dias bonitos garantidas me fará ficar por casa para além da escapadela matutina.
No mercado tudo igual à semana passada. Não estão nem menos nem mais pessoas do que no sábado anterior. Compro as minhas coisinhas. Um ramo de hortelã para preparar chá à marroquina, com folhas frescas e açucar. Um reavivar de memórias de outros tempos naquele país africano. E morangos. Vindos de onde vêm, do mais puro que se pode imaginar, a anos luz das caixas aviadas nos grandes espaços comerciais. Algumas clementinas.
Depois, nas arcadas perto do largo do Giraldo o Expresso. Uma manhã de Sábado exemplar, como eu gosto, como eu fui criado para viver estas manhãs de sábado. Tudo certo, tudo no devido lugar.
Regressar a casa e passar a tarde na preguiça. Já há um sentir viver em Évora, mais do que um sentir visitar Évora. Foi-se a fome de conhecer, de sair, de explorar. E é bom.
Hoje o meu grande amigo André Lousada vem visitar e passar umas noites por aqui. O André, que conheci quando me abriu a porta do seu apartamento em Praga em 2006. Mal sabia eu então que um ano depois estaria a reentrar naquele mesmo apartamento para partilhar a casa com ele e viver os anos mais felizes da minha vida.
Sempre em contacto desde então, é com naturalidade que espero a sua visita. Virá do grande Porto ao volante e vai chegar a meio da tarde. Até lá as horas passam vagarosas. Sento-me no sofá junto à janela, um conjunto bucólico que me transporta para outros tempos. Aqui leio. Leio e leio. O jornal leva um avanço, apesar de saber bem que nunca conseguirei despachar o Expresso completo de ponta a ponta. E jogo xadrez, esse prazer redescoberto desde que comprei um tablet novo.
Chega o André. Instalado e apresentado à casa, vamos dar uma volta a pé. Seria exaustivo relatar aqui em detalhe por onde passámos. Naturalmente, pelos pontos marcantes da cidade: Templo de Diana, Praça do Giraldo, Catedral. E também por milhentas ruas, vielas e becos. Mostrando-lhe as casas em consideração e as que não o estando também se encontram à venda.
Fomos ao Jardim Público, muito agradável nesta serena tarde de Primavera marcada pelo ambiente preguiçoso de um solarengo Sábado.
E depois foi sendo tempo de regressar, com uma paragem no restaurante Porta D’Aviz para um take away glorioso. Ainda a tempo de assistir ao final do dia a partir do terraço, restou depois o serão, passado naquelas coisas de rotina de sempre. Especialmente o Fortenite.
Ouvi falar pela primeira vez de Terena há menos de um ano. Procurava locais a visitar no Alentejo e o nome apareceu-me num artigo de um blogue dedicado às aldeias mais bonitas do Alentejo. Estranhei, até porque já tinha andado bem perto, na barragem de Lucifécit, ali mesmo ao lado. E tomei nota.
Agora que me baseio em Évora sabia que visitar Terena era uma das prioridades. E já teria mesmo acontecido, fossem os deuses do tempo mais favoráveis para com a minha causa. Há um par de dias quando saí para Redondo a ideia era estender um pouco a expedição e chegar a Terena, mas o adensar das nuvens no céu destruiu o plano.
Agora era Sexta-feira e pela primeira vez tinha um céu totalmente azul sobre a minha cabeça. Havia que aproveitar.
Tinha dormido bem, até um pouco tarde e ainda senti uma ponta de hesitação. Talvez devesse deixar para um dia que se iniciasse mais cedo. Mas por outro lado o caminho não era tão longo assim. Menos de uma hora de viagem. De forma que fomos.
Rolando suavemente sem preocupações passámos por Redondo, prosseguindo por terreno virgem. Mais à frente uma saída para a esquerda, uma estradinha municipal muito sossegada.
Apenas um carro se cruzou connosco. A quietude alentejana, provavelmente acentuada pelos tempos de COVID.
Logo estamos a chegar a Terena, depois de uma paragem para encontrar uma geocache e tirar umas fotos num lavadouro a céu aberto junto à estrada.
A primeira impressão da aldeia não é especialmente positiva. Talvez por excesso de expectativas. Andamos um pouco por ali, há uma pequena igreja e depois vamos ao jardim público, muito bem arranjadinho mas também de dimensões reduzidas.
Agora é subir para o núcleo histórico e é ali que Terena vive. A sua rua Direita é fabulosa, um modelo fotográfico por excelência. Cada passo pede um retrato. É uma aldeia onde existe um valioso senso de estética que marca a diferença, num país onde o piroso e o novo-riquismo dominam qualquer ideia de embelezamento.
As casinhas, todas muito bonitas, de um lado e do outro, aqui e ali com adornos nas paredes. Muitas flores, silhuetas pintadas de gatos, fantasias espalhadas para quem atentar nos detalhes.
Alguns habitantes pressentem-se mais do que se vêem. Uma música que flutua no ar, um gato que corre. A televisão ligada, os tachos a começar a bater nas lides do almoço. Melhor, muito melhor, do que o deserto humano em que se tornaram muitas outra aldeias como esta.
Já no final da rua encontra-se a torre do relógio, com os seus sinos que ainda hoje batem às horas certas através de um sistema mecânico. A porta encontra-se aberto e há um cartaz que diz Museu do Relólogio. Duas senhoras conversam no exterior. Vou visitar, mas antes quero ainda tirar algumas fotografias mais do encantador cenário.
Dou mais uns passos e nas minhas costas ouço uma porta a fechar-se. Bang e já não está aberta a entrada para a torre. Pergunto se vão fechar. Bem, só tinham vindo limpar, preparar o espaço para a reabertura que ocorrerá na Segunda-feira… mas se quisermos podemos visitar. Que jóia. Muito obrigado então.
Subimos as escadas e a vista lá de cima é uma maravilha. Os sinos ali estão, antigos, enormes, ao alcance da mão. E no percurso até à plataforma superior, fotos e artefactos que constituem a exposição.
Tiro ali algumas notas mentais de locais que gostaria de visitar nas imediações. E ganho a certeza de que regressarei para caminhar um dos percursos pedestres que existem na zona de Terena.
À saída escrevo uma nota no livro de vistas, uma nota muito positiva, claro.
Agora é chegar ao fim da rua Direita, onde se encontra o castelo. Virada para a imensidão da planície alentejana uma casa recuperada com ares de abrigo de fim-de-semana para alguém da cidade desperta-me as invejas.
Será um ninho acolhedor, um ponto de inspiração, um refúgio, um oásis. Tudo isto ou nada disto. Nem sei quem ali é proprietário mas ganho a memória, a imagem daquela espaço envidraçado com vistas.
O castelo está aberto, contra todas as expectativas, neste mundo de hipocondríacos. Aberto e deserto. É um espaço livre, coberto de relva silvestre muito verde. O acesso às muralhas é possível mas está proibido. Para quem quiser arriscar, estou certo que a vista será espectacular.
Mesmo sem vistas, o ambiente é especial. Faz-me lembrar um castelo que conheço na Herzegovina. Acho que o de Jajce.
Voltamos pelo mesmo caminho, apreciando de novo a beleza da rua Direita. Sento-me no topo das escadas do edíficio onde outrora esteve instalada a Junta de Freguesia. Chega um carro. Os vizinhos foram às compras, talvez a Évora. Descarregam flores e plantas sem fim, tudo para a casa da senhora de alguma idade que foi de boleia com o dono do AL duas portas abaixo. “Oh vizinho, fique com estas favas, que são mais”, diz-lhe ela.
Ainda damos mais umas voltas pelas ruas ali próximo, antes de voltarmos à igreja e começar a descer para a parte mais nova da aldeia, onde ficou o carro.
Chegaremos a Évora à hora do almoço. No frigorífico está o resto do take away de ontem. A carne de vitelo cuja dose de 7 Euros dará para seis refeições. Comemos no terraço, ao solinho e não há muito tempo para relaxar: vamos dar um passeio vespertino com a Carla, a uma aldeia que ela recomenda. Chama-se São Bartolomeu do Outeiro e fica para os lados de Viana do Alentejo, ou seja, a sul de Évora.
Ainda são uns bons quilómetros até à pequena cidade, virando-se depois em direcção ao santuário de Nossa Senhora de Aires. A igreja que aqui se encontra é pitoresca, mas de momento as obras que a envolvem retiram-lhe encanto. Estão-se a arranjar os parques de estacionamento e os acessos.
Entretanto o céu escurece. Já está bastante nebulado. Agora, se o santuário não encanta nestas circunstâncias (na realidade, já tinha estado no local, em 2007), descobrimos uma capela em ruínas com um charme sem fim.
Vai-se a pé, é mesmo ali atrás, junto a uma estradinha de terra batida, e do recinto do santuário vê-se-lhe o topo da cúpula.
A luz está ideal para este tipo de ambientes. Entra por cima, criando uma auréola mágica no interior. Mas é um templo pequeno e logo é dado como visto.
Marco geodésico em casa de São Bartolomeu do Outeiro
Vamos prosseguir para a tal aldeia. Fica numa posição altaneira e seria uma magnífica posição defensiva em tempos de outras guerras. Há um particularidade em São Bartolomeu do Outeiro: a Aldeia dos Pequeninos, um sonho de Abílio J. Veiga o Sassá, tornado ali realidade. Trata-se de um modelo de grandes dimensões, num estilo aplicado aos presépios natalícios, que representa uma aldeia, a aldeia.
Acima está o miradouro. Calmaria. Vistas. Lá em baixo, ao longe, a barragem de Odivelas, e onde a vista se perde, na planície, distinguem-se manchas urbanas. Uma será Cuba.
A Aldeia dos Pequeninos
Damos um pequeno passeio pela aldeia. Não tem o charme quase turístico de Terena mas mesmo assim oferece encantos que só estão disponíveis nestas pequenas localidades. Casas tradicionais, gente simpática, detalhes. Gostei.
E pronto. Depois foi o regresso, já com os olhos postos no sofá que me promete o merecido momento de relaxe depois de um dia tão preenchido. Foi em cheio!
Decididamente a metereologia é mais futurologia quando se está em Évora. Qualquer coincidência entre a previsão e a realidade tem sido casual e hoje que era esperado um dia de chuva quase permanente pouco mais caiu do que umas quantas gotas.
Foi portanto a manhã escolhida para visitar a exposição de coches da Fundação Eugénio de Almeida e a catedral de Évora, duas ideias que andavam a maturar a alguns dias. Afinal de contas a cidade não é assim tão grande e há que fazer render o peixe, visitar aos poucos estes locais, tão desafogados e livres de turistas nos dias que correm.
Passeio breve até lá e fazer a breve visita ao pequeno espaço onde se encontram quatro coches expostos. Não se pense que a ementa é assim tão magra: para além dos veículos existem diversas peças neste museu composto por duas salas e recomenda-se a visita. Além de mais nesta altura é gratuita.
Gostei de ver a mala de viagem, o telescópio e tantos outros artefactos expostos. Uma surpresa agradável.
De seguida, a catedral, mesmo ali ao lado. Pagar os 3,50 Euros pela visita parcial, ficando de fora a opção de ver o museu de arte sacra, que seria mais 1 Euro.
A primeira etapa da visita é o terraço, ou seja, o telhado sem telhas da catedral, de piso de pedra. A experiência fez-me lembrar a mais espectacular catedral de Léon, na Nicarágua, esta com o topo todo branquinho, caiado, onde só se ia descalço.
Dali tem-se provavelmente a melhor vista da cidade (não sobre a cidade, que isso, penso, será do alto de São Bento). Mas a catedral está no ponto mais alto de Évora e bem no seu centro. Pode-se portanto usufruir de uma visa 360 graus da cidade, à medida que caminhamos em redor dos terraços. Além disso há também umas perspectivas interessantes da própria catedral e do claustro, lá em baixo.
Neste momento aparecem outros visitantes, os únicos que verei por lá. Uma família de alemães.
Terminada a fase do terraço, desce-se ao claustro, tranquilo, até os germânicos aparecerem. Uma volta por ali, com uma luz muito adequada à arquitectura, boas fotografias. Há um segundo terraço acessível aos visitantes, em que se entra a partir do claustro, através de umas apertadas escadas em caracol.
E para terminar, o interior da catedral. Nada de especial. Não posso dizer que seja das igrejas mais bonitas que já vi e a luz não ajuda. Seja como for, a visita no seu todo vale a pena e justifica o preço do ingresso, apesar de ter sempre alguma comichão intelectual quando a Igreja cobra para que se visitem elementos religiosos.
Vamos regressar a casa, não necessariamente pelo caminho mais próximo. Para já, caminhar em Évora é sempre um prazer a não raras vezes o percurso escolhido é mais longo do que o seria de supor. É fácil uma pessoa perder-se intencionalmente nestas ruas.
A fome aperta. Então, vamos ao restaurante Portas d’Aviz, que vende em regime de take away, como qualquer restaurante que queira sobreviver aos tempos que correm. E vende a preços loucos, pouco mais do que 5 Euros por doses que dão para três ou quatro refeições.
Nem há muita gente à espera. É um instante até receber a porção generosa de vitela estufada, que seria com esparguete mas que tendo este acabado veio com arroz e batatas fritas.
O dia não está especialmente bonito, mas estão reunidas as condições mínimas para um agradável almoço no terraço.
Depois, a tarde passada em casa, no bem bom de não fazer nenhum. Isto até às 18:00, quando o apelo para o passeio já habitual de final de dia se fez sentir. Mais uma vez para a rua dos Mercadores, avaliar o movimento e ruído. Acho que por esta altura já é evidente que os carros não serão problemas. Mas continuo a achar a rua demasiado barulhenta e com fortes vestígios de presença académica. Não é bom sinal.
Mais umas voltas, metendo por ruas novas e outras já conhecidas e para casa, para um resto de dia algo aborrecido. Sem stress. Nem todos têm de ser recheados de eventos e novidades. Mais uma vez, jogar Fortenite e xadres e ler. Fim de dia.
E ao oitavo dia… não fazer nada. Nada, no exterior, note-se. Era anunciada chuva com fartura e foi o que tivemos. Autênticos dilúvios. De repente já não sabia se estava em Évora ou em qualquer ponto na zona equatorial. Aquela chuva diluviana que parece tudo levar, como só vi em São Tomé, caía aqui defronte, no nosso largo, numa cortina que reduzia a visibilidade. Quase não conseguia avistar as casas do outro lado, o ruido era assustador, seria o fim do mundo, teríamos um outro Noé para apanhar os cacos?
Com um tempo destes seria mais prudente ficar em casa. Apesar das pausas, entrei em modo doméstico. Meti um pé lá fora só para ir à padaria e à mercearia dos chineses, onde se encontra o melhor queijo do mundo. Começou logo a chover assim que me apanharam lá fora. Faltavam cinco minutos para fechar a padaria, o que fazia duas razões para ir a correr. Ainda consegui um pão, mas os folhados de canela com gila já estavam todos despachados. Trouxe uma queijada e um par de pupias à laia de consolação. E depois o queijo para ir com o pão.
Em casa preparo um belo prato, como gosto… chourição, presunto, queijo, azeitonas e meio copo de Porta da Ravessa, ainda mais saboroso agora que visitei as terras de Redondo.
Adiantei tarefas ao longo do dia. Marcação de consultas médicas, um texto para o meu blog sobre gelados. E as rotinas prazenteiras de sempre. Jogar Fortenite, xadrez, ler… agora agarrei um dos livros de Isabel Allende que tinha em lista de espera: A Long Petal of the Sea. Lavar a louça e, ao serão, pensar em ver um jogo da Liga dos Campeões, um projecto gorado pela excitação do Fortenite. Houve ainda tempo para despachar o último episódio da série 3 Caminos, que está a passar às Segundas-feiras na RTP1 e que vejo na RTP Play.
Foi também um dia para reflectir e fazer o ponto de situação de uma semana em Évora. Até agora, acima das expectativas. Se receava aborrecer-me, isso não está a acontecer. Sinto-me confortável em casa, e se nada mais há para fazer, como hoje, passa-se mesmo assim um dia agradável. Gosto.
A metereologia é assim mesmo, e contudo tenho sempre a tentação de a levar a sério e de forma mais ou menos acentuada condicionar a minha vida pelas suas previsões: um dia que seria de chuva foi dos mais agradáveis desde que cheguei, faz hoje uma semana.
Assim, foi acordar, beber o meu chá de alcachofra e seguir para o Rossio, onde tinha lugar a feira mensal que ocorre à segunda Terça-feira do mês.
À ida passamos por uma rua como tantas outras em Évora: bonita, ladeada de casas tradicionais. No vão de uma entrada uma senhora velhota, muito velhota, ri-se a bom rir quando passamos. Ri-se de nós, para nós, só porque sim, porque está bem disposta. É um riso de boca cheia, uma gargalhada juvenil. Está encostada à cantaria e tem uma lata de Coca-Cola na mão. Que grande estilo!
Na feira há uma fila longa para entrar. O recinto está vazio. Mais uma vez, os excessos. Esperamos, que remédio. À entrada um funcionário distribui com um gesto automatizado uma porção de gel desinfectante a cada pessoa que passa pelo pórtico, como uma hóstia.
A feira está fraquita. Quase tudo vendas de roupa. OK, uma ou duas de queijos e enchidos, duas carripanas de farturas, duas de comes e bebes, uma de quinquilharias diversas, uma de barros e cerâmicae uma de electrónica e pilhas e coisas assim.
Mesmo assim fiz umas comprinhas, já a pensar como a feira deve ser animada em tempos normais. Roupa interior, uma manta quentinha para os serões mais frios e uma peça de cerâmica, muito barata. E antes de terminar a visita deliciei-me com uma bifana à maneira, regada com uma cerveja bem fresca.
E enquanto ali estava sentado observava e pensava que o que tinha diante dos olhos não se teria alterado muito nas últimas décadas. Se estivesse em 1970 as coisas não seriam diferentes, para além do estilo de roupa de algumas pessoas.
Mesmo em frente um grupo de ciganos sem máscara conversava a menos de 10 metros de sete polícias. Apesar da proibição explícita de ali andar sem máscara e da força de 10 ou 12 agentes que ali estava. Para quê? E depois que se levante o dedo acusador: “Populismo!”.
Regressar a casa, levantar comida no take away da tasca das portas de Avis e correr à padaria para trazer o pacote do programa Too Good. E logo de seguida pegar no carro para devolver o desumificador comprado em segunda mão há um par de dias, que funcionava muito, muito mal, retirando apenas uma pequena porção de água do ar.
Uma boa parte da tarde foi passada no mais sagrado da arte de não fazer nada. Entre leitura no terraço, onde se estava fabulosamente bem, uns quantos jogos de Fortenite e outros tantos de xadrez, o tempo foi passando.
À hora de ponta, pelas 18 horas, fomos de novo à rua dos Mercadores medir o movimento e o ruído. Foi também um pretexto para esticar um pouco as pernas.
Mais um passeio agradável de fim de tarde e por lá tudo tranquilo. Contudo, não posso esquecer que se vivem tempos extraordinários e continuo a suspeitar da morada. Vejo muitos jovens a entrar e sair de casas naquela rua, provavelmente estudantes universitários e consigo imaginar facilmente nivéis de ruído acima do que desejo em época normal. Mas uma coisa é certa, as ruas ali em volta formam uma das zonas mais interessantes do centro histórico de Évora.
No regresso, depois de passar pela praça do Giraldo, vi a morte de perto. Não foi a primeira vez na vida. Nem de perto nem de longe. Desta vez vinha a caminhar no passeio quando uma moça quase galgou o passeio por estar a usar o telemóvel enquanto conduzia. Com uma parede por detrás a coisa poderia tornar-se facilmente letal… foi por uma questão de um metro. Um metro num milisegundo podem fazer a diferença entre a vida e a morte. É por estas que não levo coisas como a COVID-19 ou como viajar na Síria em tempos de guerar muito a sério. Já estive perto, muito perto, de um fim súbito talvez umas oito vezes. Todas elas a fazer coisas banais e em Portugal.
Nada mais a assinalar para este dia. Serão banal, jogando, vendo um pouco de futebol e umas séries.
Depois, sempre a rolar, para Redondo, quase sempre próximo dos trabalhos de construção da nova ligação ferroviária entre Sines e Badajoz, uma obra de que não tinha ouvido falar e muito me surpreendeu. Não sabia que ainda se investia em ferrovia.
À entrada de Redondo uma breve paragem para dar a volta ao Coliseu, um espaço polivalente que resultou da adaptação da antiga praça de touros.
Já no centro histórico o carro foi parqueado com facilidade. Até agora a vila não me está a convencer.
Entro na cidadela. Aqui há mais charme. Ruas históricas, construções tradicionais. Há uma igreja, ao lado do antigo hospital, e a torre de menagem logo ali. Tudo fechadinho, que este munícipio é hipocondríaco, ao contrário da maioria das pessoas que vejo nas ruas.
Depois de sair da zona muralhada por outra porta, a Porta da Ravessa, aquela que dá o nome ao vinho de que sou consumidor habitual (e contudo, foi preciso chegar a esta semana para descobrir onde era produzido), vamos até ao cemitério, um pouco mais abaixo, junto a uma igreja bem cuidada e decorada com recortes azuis. O Museu do Barro fica logo à frente. Fechado, claro.
Gostei de visitar o cemitério. Algumas lápides têm mais de cem anos e consegui algumas fotos interessantes. Apesar de gostar bastante de visitar cemitérios, não costumo apreciar os portugueses, mas até fiquei surpreendido aqui.
Passeamos um pouco. Passamos junto ao parque municipal, encerrado também. E contudo apenas algumas pessoas seguem a preceito o exagero da mascarada na rua.
Vamos a uma ermida mais periférica, passando junto ao posto da GNR, um autêntico quartel à moda antiga, a remeter para os tempos em que a presença da Guarda no Alentejo se fazia sentir, e de que maneira.
Vai-se fazendo horas de regressar. Estou cansado e Redondo já deu o que tinha para oferecer. Caminhar até ao carro, mais próximo do que pensava e de volta a Évora.
À medida que nos aproximamos da cidade fica claro que por aqui o tempo até esteve agradável ao longo do dia. É como se as núvens tivessem algo de pessoal comigo e me seguissem.
Assim, apesar do cansaço, não resisto a sair logo após chegar a casa. A tarde está linda demais para ficar fechado. Para isso haverá tempo nos próximos dias, para os quais se anuncia chuva.
Vamos para a esplanada do quiosque do Jardim de Diana. Como eu gosto deste pouso, tão agradável, com o imponente templo romano mesmo ali, quase ao alcance da mão, e a clientela, sempre tão serena. Adoro estar ali a ver pessoas passar e observar a gente das outras mesas, e o serviço educado e a minha Água das Pedras com uma rodela de limão.
Imagem do dia do Templo de Diana
Ao fim do bocado devido mudámos de pouso. Para o Cantinho da Tété, um pouco mais abaixo. Trato de comer uma bela de uma tosta mista, empurrada por um par de imperiais servidas no ponto, bem frescas, em copo tradicional, como eu gosto. Também ali se está bem. As outras mesas (na realidade a maioria pertence a um estabelecimento vizinho) estão bem compostas, mas há sempre aquela calma que me surpreende nas esplanadas de Évora.
Há-de chegar a hora de pagar e seguir, e quando nos afastamos decidimos ir espereitar a rua dos Mercadores de novo, aquela em que está a casa que visitámos ontem.
São 18:30 e a cidade está deserta. No Giraldo algumas pessoas na esplanada e… e… o Posto de Turismo está aberto depois de o encontrarmos fechado vezes sem conta. Boa, sacamos um mapa da cidade para turistas.
A rua dos Mercadores está hoje bem mais tranquila. Vamos até ao fim, depois iniciamos o regresso a casa sem pressas, escolhendo as vielas mais estreitas. A luz está deliciosa e a iluminação pública já está ligada. Um grande final de tarde de temperatura amena e o azul possível lá em cima, no céu.
Nada de relevante a anotar para o serão. Assim se passou mais um dos dias de Évora.
De manhã, uma saída para visitar o Paço de São Miguel. Trata-se de um edifício nobre no centro histórico de Évora, outrora residência de Eugénio de Almeida e hoje parte do património gerido pela fundação com o mesmo nome, que desempenha um papel vital na vida cultural da cidade.
Não vou contar a história do Paço de forma exaustiva, pois que para isso exsite já um excelente texto no website oficial da Fundação, que poderá ler aqui.
Lembro-me que após visitar Évora várias vezes foi apenas no ano passado, e por mero acaso, que descobri o pátio de São Miguel, um corredor urbano privado de onde se tem acesso a vários edifícios ligados à Fundação Eugénio de Almeida.
Sabia portanto hoje onde me dirigir, tendo chegado ao Templo de Diana depois de uma breve caminhada desde casa. Por detrás há o discreto acesso a esta zona e logo estava a entrar no Paço cujo acesso é gratuito nestes tempos de pandemia.
A visita é interessante e podemos ver uma série de salas que pertenceram à esfera social e intíma da família. Gosto bastante de espaços museológicos deste tipo, que recriam vidas e quotidianos, transportando-nos para outros tempos.
Na realidade, se escavar bem fundo na minha memória, muito do que ali vi remete-me para a minha própria infância. O estilo de mobiliário, os ambientes, apesar de numa escala bem mais reduzida… e é nestes momentos que me apercebo do peso da idade e de como os capítulos precoces da minha vida já vão distantes, tendo-se afastado suavemente, como se vogassem nas águas de uma corrente. Parece hoje, mas já foi há tanto tempo.
Vi salas de jogo, salões sociais, e mais salas. A cozinha, como quase sempre acontece nestes palácios, é especialmente interessante. Todos os espaços têm um código QR que, depois de lido pelo telemóvel, conduz a uma página com uma história detalhada.
Terminada a visita das seis salas e cozinha a simpática funcionária sugere-nos que demos uma vista de olhos à bilblioteca. Ao contrário do que pensava, trata-se de uma biblioteca histórica, não funcional. Como que uma extensão dos espaços antes visitados.
Mais uma funcionária da Fundação recebe-nos à porta e aguarda enquanto percorro as muitas prateleiras, espreitando os títulos e pensando uma vez mais de quão distante vão os meus tempos de universidade, quando uma boa parte do trabalho académico se fazia em bibliotecas assim, sem imaginar a revolução digital que se avizinhava.
Vejo títulos curiosos, como o Código Penal Chinês. Uma boa parte do espólio bibliográfico é de cunho francófono. Em inglês, basicamente nada.
E está feito. Ainda vamos à catedral, que reparamos estar aberta. É preciso pagar bilhete para visitar. Nada contra, mas fica para outro dia.
Agora é regressar a casa sob o céu plúmbeo. Começo a ficar farto destes dias escuros. Almoçar um arroz de pato e relaxar um pouco antes da visita das 14 horas à casa que descobri ontem à venda. O tempo passa a correr. Gostava de estender o descanso mas não é possível. Vamos lá então ver aquela casa.
Foi uma certa decepção. Entre prós e contras, os últimos deverão ser demasiados para isto seguir em frente: a localização de facto não me convence, demasiado movimento; a casa tem elementos não existentes nas plantas e portanto há um problema; são precisas mais obras do que pensava o que considerando o preço do imóvel torna o investimento demasiado elevado. É verdade que tem uma certa fantasia, com a sua verticalidade, as escadas que sobem os quatro pisos. E o terraço é lindo, pequeno, com boa vista e oferecendo privacidade. Mas não dá. Acho.
Regressar a casa. Tarde de preguiça. Sirvo uma dose de gelado de requeijão com doce de abóbara ao Henrique e à Carla. Ainda pensei em preparar hoje uma caixa do de morango mas o tempo foi passando e não aconteceu. Amanhã, então.
Passo um pouco pelas brasas. Acordo e noto que o cinzento no céu foi substituido por azul. É verdade, ainda existem núvens, mas estão agora em minoria. Com uma visão destas há que fazer um passeio de fim de tarde.
E que belo fim de tarde de Primavera este. Temperatura amena, o sol que aquece ternamente. Há algum movimento nas ruas. Será esta a dinâmica normal de um Domingo, com mais vida do que o Sábado? Ou é o resultado de um tempo mais agradável?
A ideia é caminhar sem destino e para já contorno as muralhas, seguindo a periferia do centro histórico. Tento visitar o cemitério mas encontro o portão fechado. Seja. Continuo a volta das muralhas, até ao Rossio.
Que bom seria que todos os dias fossem assim. A moral levantar-se-ia certamente. Está mesmo agradável.
Agora mais para o interior, por ruas conhecidas de outros passeios, mas sempre com detalhes novos a ser descobertos. Para cima e para baixo, para ali e para acolá. Hospital, quartel, Giraldo, parque municipal. Igrejas e coisas assim. Tudo junto virão a ser mais de quatro quilómetros.
Já são quase oito horas e o Sporting. Antes não jogasse. Mais um desapontante empate. Ainda se o Bétis não tivesse marcado aquele golo ao Atlético de Madrid pelo menos a perda de pontos do meu Sporting ter-me-ia rendido 120 Euros como retorno de um par de apostas desportivas. Mas nem isso.
Mas perco-me em divagações. Ia no passeio. Bem, na verdade estava a acabar. Noto um casal de velhotes que regressa a casa, de braço dado. Não posso deixar de pensar quantas vezes fizeram este caminho, juntos ou sós, com tantos estados de espírito na alma. Com calor e chuva, esperança e ânsia, tristeza e excitação. Cada um deles.
Eles…
Entretanto a Carla vem a descer a rua. Vamos juntos à padaria e depois regressar a casa. Comer qualquer coisa. Subir ao terraço para espreitar a paisagem. E depois ver a tal desgraça sportinguista. E aqui estou, a escrever estas linhas, num final de serão tranquilo.