A metereologia é assim mesmo, e contudo tenho sempre a tentação de a levar a sério e de forma mais ou menos acentuada condicionar a minha vida pelas suas previsões: um dia que seria de chuva foi dos mais agradáveis desde que cheguei, faz hoje uma semana.
Assim, foi acordar, beber o meu chá de alcachofra e seguir para o Rossio, onde tinha lugar a feira mensal que ocorre à segunda Terça-feira do mês.
À ida passamos por uma rua como tantas outras em Évora: bonita, ladeada de casas tradicionais. No vão de uma entrada uma senhora velhota, muito velhota, ri-se a bom rir quando passamos. Ri-se de nós, para nós, só porque sim, porque está bem disposta. É um riso de boca cheia, uma gargalhada juvenil. Está encostada à cantaria e tem uma lata de Coca-Cola na mão. Que grande estilo!
Na feira há uma fila longa para entrar. O recinto está vazio. Mais uma vez, os excessos. Esperamos, que remédio. À entrada um funcionário distribui com um gesto automatizado uma porção de gel desinfectante a cada pessoa que passa pelo pórtico, como uma hóstia.
A feira está fraquita. Quase tudo vendas de roupa. OK, uma ou duas de queijos e enchidos, duas carripanas de farturas, duas de comes e bebes, uma de quinquilharias diversas, uma de barros e cerâmicae uma de electrónica e pilhas e coisas assim.
Mesmo assim fiz umas comprinhas, já a pensar como a feira deve ser animada em tempos normais. Roupa interior, uma manta quentinha para os serões mais frios e uma peça de cerâmica, muito barata. E antes de terminar a visita deliciei-me com uma bifana à maneira, regada com uma cerveja bem fresca.
E enquanto ali estava sentado observava e pensava que o que tinha diante dos olhos não se teria alterado muito nas últimas décadas. Se estivesse em 1970 as coisas não seriam diferentes, para além do estilo de roupa de algumas pessoas.
Mesmo em frente um grupo de ciganos sem máscara conversava a menos de 10 metros de sete polícias. Apesar da proibição explícita de ali andar sem máscara e da força de 10 ou 12 agentes que ali estava. Para quê? E depois que se levante o dedo acusador: “Populismo!”.
Regressar a casa, levantar comida no take away da tasca das portas de Avis e correr à padaria para trazer o pacote do programa Too Good. E logo de seguida pegar no carro para devolver o desumificador comprado em segunda mão há um par de dias, que funcionava muito, muito mal, retirando apenas uma pequena porção de água do ar.
Uma boa parte da tarde foi passada no mais sagrado da arte de não fazer nada. Entre leitura no terraço, onde se estava fabulosamente bem, uns quantos jogos de Fortenite e outros tantos de xadrez, o tempo foi passando.
À hora de ponta, pelas 18 horas, fomos de novo à rua dos Mercadores medir o movimento e o ruído. Foi também um pretexto para esticar um pouco as pernas.
Mais um passeio agradável de fim de tarde e por lá tudo tranquilo. Contudo, não posso esquecer que se vivem tempos extraordinários e continuo a suspeitar da morada. Vejo muitos jovens a entrar e sair de casas naquela rua, provavelmente estudantes universitários e consigo imaginar facilmente nivéis de ruído acima do que desejo em época normal. Mas uma coisa é certa, as ruas ali em volta formam uma das zonas mais interessantes do centro histórico de Évora.
No regresso, depois de passar pela praça do Giraldo, vi a morte de perto. Não foi a primeira vez na vida. Nem de perto nem de longe. Desta vez vinha a caminhar no passeio quando uma moça quase galgou o passeio por estar a usar o telemóvel enquanto conduzia. Com uma parede por detrás a coisa poderia tornar-se facilmente letal… foi por uma questão de um metro. Um metro num milisegundo podem fazer a diferença entre a vida e a morte. É por estas que não levo coisas como a COVID-19 ou como viajar na Síria em tempos de guerar muito a sério. Já estive perto, muito perto, de um fim súbito talvez umas oito vezes. Todas elas a fazer coisas banais e em Portugal.
Nada mais a assinalar para este dia. Serão banal, jogando, vendo um pouco de futebol e umas séries.







