Tinham-me prometido um dia bonito para hoje, mas quando abri os olhos o cinzento ainda olhava para mim. Tomei o chá da manhã com muita calma, acreditando que se tivesse paciência as coisas iriam mudar e sairia de Évora rumo a Redondo e Terena com um esplendoroso céu azul sobre a minha cabeça. Mas não. Se alguma coisa, o dia cada vez estava mais escuro. Especialmente naquela direcção, para leste. Foi assim que após uma manhã de espera largámos para Redondo. Com este céu Terena ficaria para outro dia, mas pelo menos veria algo diferente hoje. Até porque penso que nunca antes tinha visitado esta vila que desempenhou um papel tão importante na história de Portugal. À saída de Évora encontrámos umas geocaches, uma delas que apontou para uma bonita capela à beira da estrada. Depois, sempre a rolar, para Redondo, quase sempre próximo dos trabalhos de construção da nova ligação ferroviária entre Sines e Badajoz, uma obra de que não tinha ouvido falar e muito me surpreendeu. Não sabia que ainda se investia em ferrovia. À entrada de Redondo uma breve paragem para dar a volta ao Coliseu, um espaço polivalente que resultou da adaptação da antiga praça de touros. Já no centro histórico o carro foi parqueado com facilidade. Até agora a vila não me está a convencer. Entro na cidadela. Aqui há mais charme. Ruas históricas, construções tradicionais. Há uma igreja, ao lado do antigo hospital, e a torre de menagem logo ali. Tudo fechadinho, que este munícipio é hipocondríaco, ao contrário da maioria das pessoas que vejo nas ruas. Depois de sair da zona muralhada por outra porta, a Porta da Ravessa, aquela que dá o nome ao vinho de que sou consumidor habitual (e contudo, foi preciso chegar a esta semana para descobrir onde era produzido), vamos até ao cemitério, um pouco mais abaixo, junto a uma igreja bem cuidada e decorada com recortes azuis. O Museu do Barro fica logo à frente. Fechado, claro. Gostei de visitar o cemitério. Algumas lápides têm mais de cem anos e consegui algumas fotos interessantes. Apesar de gostar bastante de visitar cemitérios, não costumo apreciar os portugueses, mas até fiquei surpreendido aqui. Passeamos um pouco. Passamos junto ao parque municipal, encerrado também. E contudo apenas algumas pessoas seguem a preceito o exagero da mascarada na rua. Vamos a uma ermida mais periférica, passando junto ao posto da GNR, um autêntico quartel à moda antiga, a remeter para os tempos em que a presença da Guarda no Alentejo se fazia sentir, e de que maneira. Vai-se fazendo horas de regressar. Estou cansado e Redondo já deu o que tinha para oferecer. Caminhar até ao carro, mais próximo do que pensava e de volta a Évora. À medida que nos aproximamos da cidade fica claro que por aqui o tempo até esteve agradável ao longo do dia. É como se as núvens tivessem algo de pessoal comigo e me seguissem. Assim, apesar do cansaço, não resisto a sair logo após chegar a casa. A tarde está linda demais para ficar fechado. Para isso haverá tempo nos próximos dias, para os quais se anuncia chuva. Vamos para a esplanada do quiosque do Jardim de Diana. Como eu gosto deste pouso, tão agradável, com o imponente templo romano mesmo ali, quase ao alcance da mão, e a clientela, sempre tão serena. Adoro estar ali a ver pessoas passar e observar a gente das outras mesas, e o serviço educado e a minha Água das Pedras com uma rodela de limão. Ao fim do bocado devido mudámos de pouso. Para o Cantinho da Tété, um pouco mais abaixo. Trato de comer uma bela de uma tosta mista, empurrada por um par de imperiais servidas no ponto, bem frescas, em copo tradicional, como eu gosto. Também ali se está bem. As outras mesas (na realidade a maioria pertence a um estabelecimento vizinho) estão bem compostas, mas há sempre aquela calma que me surpreende nas esplanadas de Évora. Há-de chegar a hora de pagar e seguir, e quando nos afastamos decidimos ir espereitar a rua dos Mercadores de novo, aquela em que está a casa que visitámos ontem. São 18:30 e a cidade está deserta. No Giraldo algumas pessoas na esplanada e… e… o Posto de Turismo está aberto depois de o encontrarmos fechado vezes sem conta. Boa, sacamos um mapa da cidade para turistas. A rua dos Mercadores está hoje bem mais tranquila. Vamos até ao fim, depois iniciamos o regresso a casa sem pressas, escolhendo as vielas mais estreitas. A luz está deliciosa e a iluminação pública já está ligada. Um grande final de tarde de temperatura amena e o azul possível lá em cima, no céu. Nada de relevante a anotar para o serão. Assim se passou mais um dos dias de Évora.












