Dia 6 – Há Azul no Céu

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De manhã, uma saída para visitar o Paço de São Miguel. Trata-se de um edifício nobre no centro histórico de Évora, outrora residência de Eugénio de Almeida e hoje parte do património gerido pela fundação com o mesmo nome, que desempenha um papel vital na vida cultural da cidade.

Não vou contar a história do Paço de forma exaustiva, pois que para isso exsite já um excelente texto no website oficial da Fundação, que poderá ler aqui.

Lembro-me que após visitar Évora várias vezes foi apenas no ano passado, e por mero acaso, que descobri o pátio de São Miguel, um corredor urbano privado de onde se tem acesso a vários edifícios ligados à Fundação Eugénio de Almeida.

Sabia portanto hoje onde me dirigir, tendo chegado ao Templo de Diana depois de uma breve caminhada desde casa. Por detrás há o discreto acesso a esta zona e logo estava a entrar no Paço cujo acesso é gratuito nestes tempos de pandemia.

A visita é interessante e podemos ver uma série de salas que pertenceram à esfera social e intíma da família. Gosto bastante de espaços museológicos deste tipo, que recriam vidas e quotidianos, transportando-nos para outros tempos.

Na realidade, se escavar bem fundo na minha memória, muito do que ali vi remete-me para a minha própria infância. O estilo de mobiliário, os ambientes, apesar de numa escala bem mais reduzida… e é nestes  momentos que me apercebo do peso da idade e de como os capítulos precoces da minha vida já vão distantes, tendo-se afastado suavemente, como se vogassem nas águas de uma corrente. Parece hoje, mas já foi há tanto tempo.

Vi salas de jogo, salões sociais, e mais salas. A cozinha, como quase sempre acontece nestes palácios, é especialmente interessante. Todos os espaços têm um código QR que, depois de lido pelo telemóvel, conduz a uma página com uma história detalhada.

 

 

Terminada a visita das seis salas e cozinha a simpática funcionária sugere-nos que demos uma vista de olhos à bilblioteca. Ao contrário do que pensava, trata-se de uma biblioteca histórica, não funcional. Como que uma extensão dos espaços antes visitados.

Mais uma funcionária da Fundação recebe-nos à porta e aguarda enquanto percorro as muitas prateleiras, espreitando os títulos e pensando uma vez mais de quão distante vão os meus tempos de universidade, quando uma boa parte do trabalho académico se fazia em bibliotecas assim, sem imaginar a revolução digital que se avizinhava.

Vejo títulos curiosos, como o Código Penal Chinês. Uma boa parte do espólio bibliográfico é de cunho francófono. Em inglês, basicamente nada.

E está feito. Ainda vamos à catedral, que reparamos estar aberta. É preciso pagar bilhete para visitar. Nada contra, mas fica para outro dia.

Agora é regressar a casa sob o céu plúmbeo. Começo a ficar farto destes dias escuros. Almoçar um arroz de pato e relaxar um pouco antes da visita das 14 horas à casa que descobri ontem à venda. O tempo passa a correr. Gostava de estender o descanso mas não é possível. Vamos lá então ver aquela casa.

 

 

Foi uma certa decepção. Entre prós e contras, os últimos deverão ser demasiados para isto seguir em frente: a localização de facto não me convence, demasiado movimento; a casa tem elementos não existentes nas plantas e portanto há um problema; são precisas mais obras do que pensava o que considerando o preço do imóvel torna o investimento demasiado elevado. É verdade que tem uma certa fantasia, com a sua verticalidade, as escadas que sobem os quatro pisos. E o terraço é lindo, pequeno, com boa vista e oferecendo privacidade. Mas não dá. Acho.

Regressar a casa. Tarde de preguiça. Sirvo uma dose de gelado de requeijão com doce de abóbara ao Henrique e à Carla. Ainda pensei em preparar hoje uma caixa do de morango mas o tempo foi passando e não aconteceu. Amanhã, então.

Passo um pouco pelas brasas. Acordo e noto que o cinzento no céu foi substituido por azul. É verdade, ainda existem núvens, mas estão agora em minoria. Com uma visão destas há que fazer um passeio de fim de tarde.

E que belo fim de tarde de Primavera este. Temperatura amena, o sol que aquece ternamente. Há algum movimento nas ruas. Será esta a dinâmica normal de um Domingo, com mais vida do que o Sábado? Ou é o resultado de um tempo mais agradável?

A ideia é caminhar sem destino e para já contorno as muralhas, seguindo a periferia do centro histórico. Tento visitar o cemitério mas encontro o portão fechado. Seja. Continuo a volta das muralhas, até ao Rossio.

Que bom seria que todos os dias fossem assim. A moral levantar-se-ia certamente. Está mesmo agradável.

Agora mais para o interior, por ruas conhecidas de outros passeios, mas sempre com detalhes novos a ser descobertos. Para cima e para baixo, para ali e para acolá. Hospital, quartel, Giraldo, parque municipal. Igrejas e coisas assim. Tudo junto virão a ser mais de quatro quilómetros.

Já são quase oito horas e o Sporting. Antes não jogasse. Mais um desapontante empate. Ainda se o Bétis não tivesse marcado aquele golo ao Atlético de Madrid pelo menos a perda de pontos do meu Sporting ter-me-ia rendido 120 Euros como retorno de um par de apostas desportivas. Mas nem isso.

Mas perco-me em divagações. Ia no passeio. Bem, na verdade estava a acabar. Noto um casal de velhotes que regressa a casa, de braço dado. Não posso deixar de pensar quantas vezes fizeram este caminho, juntos ou sós, com tantos estados de espírito na alma. Com calor e chuva, esperança e ânsia, tristeza e excitação. Cada um deles.

Eles…

Entretanto a Carla vem a descer a rua. Vamos juntos à padaria e depois regressar a casa. Comer qualquer coisa. Subir ao terraço para espreitar a paisagem. E depois ver a tal desgraça sportinguista. E aqui estou, a escrever estas linhas, num final de serão tranquilo.

Um bom pôr-de-sol

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