Ouvi falar pela primeira vez de Terena há menos de um ano. Procurava locais a visitar no Alentejo e o nome apareceu-me num artigo de um blogue dedicado às aldeias mais bonitas do Alentejo. Estranhei, até porque já tinha andado bem perto, na barragem de Lucifécit, ali mesmo ao lado. E tomei nota.
Agora que me baseio em Évora sabia que visitar Terena era uma das prioridades. E já teria mesmo acontecido, fossem os deuses do tempo mais favoráveis para com a minha causa. Há um par de dias quando saí para Redondo a ideia era estender um pouco a expedição e chegar a Terena, mas o adensar das nuvens no céu destruiu o plano.
Agora era Sexta-feira e pela primeira vez tinha um céu totalmente azul sobre a minha cabeça. Havia que aproveitar.
Tinha dormido bem, até um pouco tarde e ainda senti uma ponta de hesitação. Talvez devesse deixar para um dia que se iniciasse mais cedo. Mas por outro lado o caminho não era tão longo assim. Menos de uma hora de viagem. De forma que fomos.
Rolando suavemente sem preocupações passámos por Redondo, prosseguindo por terreno virgem. Mais à frente uma saída para a esquerda, uma estradinha municipal muito sossegada.
Apenas um carro se cruzou connosco. A quietude alentejana, provavelmente acentuada pelos tempos de COVID.
Logo estamos a chegar a Terena, depois de uma paragem para encontrar uma geocache e tirar umas fotos num lavadouro a céu aberto junto à estrada.
A primeira impressão da aldeia não é especialmente positiva. Talvez por excesso de expectativas. Andamos um pouco por ali, há uma pequena igreja e depois vamos ao jardim público, muito bem arranjadinho mas também de dimensões reduzidas.
Agora é subir para o núcleo histórico e é ali que Terena vive. A sua rua Direita é fabulosa, um modelo fotográfico por excelência. Cada passo pede um retrato. É uma aldeia onde existe um valioso senso de estética que marca a diferença, num país onde o piroso e o novo-riquismo dominam qualquer ideia de embelezamento.
As casinhas, todas muito bonitas, de um lado e do outro, aqui e ali com adornos nas paredes. Muitas flores, silhuetas pintadas de gatos, fantasias espalhadas para quem atentar nos detalhes.
Alguns habitantes pressentem-se mais do que se vêem. Uma música que flutua no ar, um gato que corre. A televisão ligada, os tachos a começar a bater nas lides do almoço. Melhor, muito melhor, do que o deserto humano em que se tornaram muitas outra aldeias como esta.
Já no final da rua encontra-se a torre do relógio, com os seus sinos que ainda hoje batem às horas certas através de um sistema mecânico. A porta encontra-se aberto e há um cartaz que diz Museu do Relólogio. Duas senhoras conversam no exterior. Vou visitar, mas antes quero ainda tirar algumas fotografias mais do encantador cenário.
Dou mais uns passos e nas minhas costas ouço uma porta a fechar-se. Bang e já não está aberta a entrada para a torre. Pergunto se vão fechar. Bem, só tinham vindo limpar, preparar o espaço para a reabertura que ocorrerá na Segunda-feira… mas se quisermos podemos visitar. Que jóia. Muito obrigado então.
Subimos as escadas e a vista lá de cima é uma maravilha. Os sinos ali estão, antigos, enormes, ao alcance da mão. E no percurso até à plataforma superior, fotos e artefactos que constituem a exposição.
Tiro ali algumas notas mentais de locais que gostaria de visitar nas imediações. E ganho a certeza de que regressarei para caminhar um dos percursos pedestres que existem na zona de Terena.
À saída escrevo uma nota no livro de vistas, uma nota muito positiva, claro.
Agora é chegar ao fim da rua Direita, onde se encontra o castelo. Virada para a imensidão da planície alentejana uma casa recuperada com ares de abrigo de fim-de-semana para alguém da cidade desperta-me as invejas.
Será um ninho acolhedor, um ponto de inspiração, um refúgio, um oásis. Tudo isto ou nada disto. Nem sei quem ali é proprietário mas ganho a memória, a imagem daquela espaço envidraçado com vistas.
O castelo está aberto, contra todas as expectativas, neste mundo de hipocondríacos. Aberto e deserto. É um espaço livre, coberto de relva silvestre muito verde. O acesso às muralhas é possível mas está proibido. Para quem quiser arriscar, estou certo que a vista será espectacular.
Mesmo sem vistas, o ambiente é especial. Faz-me lembrar um castelo que conheço na Herzegovina. Acho que o de Jajce.
Voltamos pelo mesmo caminho, apreciando de novo a beleza da rua Direita. Sento-me no topo das escadas do edíficio onde outrora esteve instalada a Junta de Freguesia. Chega um carro. Os vizinhos foram às compras, talvez a Évora. Descarregam flores e plantas sem fim, tudo para a casa da senhora de alguma idade que foi de boleia com o dono do AL duas portas abaixo. “Oh vizinho, fique com estas favas, que são mais”, diz-lhe ela.
Ainda damos mais umas voltas pelas ruas ali próximo, antes de voltarmos à igreja e começar a descer para a parte mais nova da aldeia, onde ficou o carro.
Chegaremos a Évora à hora do almoço. No frigorífico está o resto do take away de ontem. A carne de vitelo cuja dose de 7 Euros dará para seis refeições. Comemos no terraço, ao solinho e não há muito tempo para relaxar: vamos dar um passeio vespertino com a Carla, a uma aldeia que ela recomenda. Chama-se São Bartolomeu do Outeiro e fica para os lados de Viana do Alentejo, ou seja, a sul de Évora.
Ainda são uns bons quilómetros até à pequena cidade, virando-se depois em direcção ao santuário de Nossa Senhora de Aires. A igreja que aqui se encontra é pitoresca, mas de momento as obras que a envolvem retiram-lhe encanto. Estão-se a arranjar os parques de estacionamento e os acessos.
Entretanto o céu escurece. Já está bastante nebulado. Agora, se o santuário não encanta nestas circunstâncias (na realidade, já tinha estado no local, em 2007), descobrimos uma capela em ruínas com um charme sem fim.
Vai-se a pé, é mesmo ali atrás, junto a uma estradinha de terra batida, e do recinto do santuário vê-se-lhe o topo da cúpula.
A luz está ideal para este tipo de ambientes. Entra por cima, criando uma auréola mágica no interior. Mas é um templo pequeno e logo é dado como visto.

Vamos prosseguir para a tal aldeia. Fica numa posição altaneira e seria uma magnífica posição defensiva em tempos de outras guerras. Há um particularidade em São Bartolomeu do Outeiro: a Aldeia dos Pequeninos, um sonho de Abílio J. Veiga o Sassá, tornado ali realidade. Trata-se de um modelo de grandes dimensões, num estilo aplicado aos presépios natalícios, que representa uma aldeia, a aldeia.
Acima está o miradouro. Calmaria. Vistas. Lá em baixo, ao longe, a barragem de Odivelas, e onde a vista se perde, na planície, distinguem-se manchas urbanas. Uma será Cuba.

Damos um pequeno passeio pela aldeia. Não tem o charme quase turístico de Terena mas mesmo assim oferece encantos que só estão disponíveis nestas pequenas localidades. Casas tradicionais, gente simpática, detalhes. Gostei.
E pronto. Depois foi o regresso, já com os olhos postos no sofá que me promete o merecido momento de relaxe depois de um dia tão preenchido. Foi em cheio!














