É Sábado em Évora, e Sábado é um dia especial. Quanto mais não seja porque é dia de mercado de frutas e vegetais, um mercado que me agrada mas que mesmo assim poderia ser mais perfeito.
Sou grande entusiasta deste tipo de eventos, procuro sempre um mercado quando viajo, mas a minha grande referência é o mercado do Carmo, em Faro, o meu posuo costumeiro de Domingos de manhã. E por comparação o que vejo eu, quando aqui venho, ao Campo Primeiro de Maio em Évora?
Os vendedores e produtos são um pouco mais genuínos, aparentemente vendendo apenas a sua produção e com um perfume a lavra que em Faro não se tem. Pelo menos nesta intensidade. Por lá vê-se que algumas coisas virão do Mercado Abastecedor, há mais variedade. Aqui, se é época das favas há favas por todo o lado e pouco mais. A escolha é mais limitada mas fica a ideia que de melhor qualidade. Quanto a preços diria que as coisas andam mais ou menos pelo mesmo.
Pela negativa, o ambiente mortiço, com poucos vendedores e também poucos fregueses. Pode ser que seja devido à época especial que vivemos, o que não é grande consolo porque começo a estar convicto que indo-se a emergência sanitária ficará a sensação de emergência sanitária nas pessoas.
Seja como for, será uma actividade “obrigatória” para mim aos Sábados de manhã. É um passeio agradável, até lá, depois as compras. Hoje não trouxe muita coisa. Morangos, comprados a uma jovem simpática e faladora de olhos claros. E um ramo de hortelã, vindo do mesmo lavrador que a semana passada me vendeu uma porção semelhante, enorme, por cinquenta cêntimos. Chá à marroquino assegurado para os próximos dias. Yummy.
Terminada a volta do mercado, passamos pelo Giraldo. A ideia é comprar um mapa da cidade que vimos na loja de revistas de onde trouxe os jornais esta semana. Lá estava e comigo veio. Mas quero tirar uma fotocópia do centro da cidade, ampliada. A livraria no Giraldo que poderia tratar disso, recusa-se, dizendo que têm instruções para não replicar nada que exista à venda na loja, como é o caso deste mapa. OK, pergunto eu à senhora, e será contra as instruções indicar-me onde o posso fazer? Ela ri-se, diz que não, não é contra as ordens que tem, e lá me diz… ironicamente mesmo de onde tinha acabado de vir, no edifício do mercado, de lado.
Lá voltamos para trás e trato do que preciso com sucesso. Mais sucesso ainda, porque compro mapas antigos da cidade, para emoldurar, por um preço loucamente baixo, practicamente oferecidos. Até trago um para os anfitriões.
O regresso a casa é estendido. Damos quase uma volta à cidade. Descubro o núcleo do Sporting de Évora, tomo nota mental. E um recanto mágico onde se fosse milionário compraria uma casinha a qualquer preço que fosse.

É um pedacinho de cidade que remete para outros tempos. Tirando a antena parabólica e a de televisão, se estivessemos em 1940 provavelmente seria rigorosamente igual. Que sossego, que ambiente bucólico!
O passeio prossegue. Vamos à rua onde a casa que trazemos agora debaixo de olho se encontra. Gosto do ambiente em redor, na rua do Machede, por ser muito local. Mas nem tudo é perfeito. A casa é escura, de áreas relativamente modestas, o terraço sem uma vista digna de nome, o barulho que (apesar de não se ouvir no interior) vem da rua principal. Oh indecisão, atroz indecisão!
Voltamos para casa. Preparo algo para comer: os morangos que trouxe do mercado, e que acabam por ser uma decepção. Têm sabores estranhos. Paciência. Valeram pelo perfume a morango. Já o copinho de Porta da Ravessa está delicioso. E fico no terraço um bocadinho a ler. Não muito, porque o vento intensifica-se e sopra-me a mensagem clara: está na hora de ir para baixo.
A tarde foi passada em casa. Ou parte dela. Às quatro horas havia que ver a casa por dentro, e lá estávamos para encontrar o Sr. Carlos que nos abriu as portas de três dos quatro quartos. Não vou dizer que foi decepcionante porque já era esperado, mas de facto são quartos minúsculos e de certa forma com pouca luz. Agora é continuar a matutar e tentar lidar com a indecisão.
Como sempre o regresso a casa não foi linear. Mais um passeio errático com uma passagem pelo Giraldo onde um grupo de quatro músicos tocava Grândola Vila Morena com instrumentos de sopro. Uma actuação rápida, a durar uns segundos, antes de partirem para outras partes.
Em casa, nas entretengas do costume. Até ao serão. Este é o dia em que saímos para sentir a cidade à noite. Ver se há muito barulho nas ruas e onde. Passar pela casa, outra vez, quem sabe haja estudantes a falar alto lá defronte, há que investigar.
Mas não se passa nada. Tudo tranquilo, é uma Évora deserta que vemos. Uma família passa, barulhenta. Um casal aqui, um par de estudantes que se movimenta acolá. Foi um passeio de quase quatro quilómetros pelo centro histórico. Soube bem.










